Em tempos de crise é bom relembrar o que é uma Pátria. Herculano, segundo as visões da sua época, demonstra bem uma trilogia que define o conceito em palavras que todos entendem.
De Alexandre Herculano (1810 – 1877, na foto à direita)
“A
língua e a religião são as duas cadeias de bronze que unem, no correr
dos tempos, as gerações passadas às presentes; e estes laços, que se
prolongam através das eras, são a pátria.
A
pátria não é a terra, não é o bosque, o rio, o vale, a montanha, a
árvore, a bonina; são-na os afectos que esses objectos nos recordam na
história da vida; é a oração ensinada a balbuciar por nossa mãe, a
língua em que pela primeira vez ela nos disse: Meu filho!
A
pátria é o crucifixo com que nosso pai se abraçou moribundo, e com que
nos abraçaremos também, antes de ir dormir o grande sono, ao pé de quem
nos gerou, no cemitério da mesma aldeia em que ele e nós nascemos.
A
pátria é o complexo de famílias enlaçadas entre si pelas recordações,
pelas crenças, e até pelo sangue. Tomai, de feito, as duas delas que vos
parecem mais estranhas, colocadas nas províncias mais opostas de um
país; examinai as relações de parentesco de uma com outra família, quais
as destas com uma terceira, e assim por diante.
Dessa
primeira, que tão estranha vos pareceu, à última, achareis um fio
enredado sim, talvez inextricável, mas sem solução de continuidade.
Uma
nação não é só metaforicamente uma grande família, é-o também no rigor
da palavra. A oração, que consolou nossos avós e nos consola no dia da
amargura, o gesto, com que imploramos a Providência, é mais veemente,
quando nos foi transmitido por aqueles que pedem por nós a Deus.
É
por esse meio que os homens apertam mais os laços invisíveis que os
unem aos seus maiores; porque o sentimento misterioso da família, e
portanto da nacionalidade, se purifica e fortalece quando se prende no
céu”.
Só falta dizer que para esta "família" funcionar é preciso participar ativamente na cidadania.